Família

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segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Antes de canetear o trabalho dos alunos



Recentemente me deparei com uma pergunta: Por que após anos de escolarização nós ainda cometemos “erros” de ortografia? Para responder essa pergunta temos que primeiramente derrubar o conceito de certo e errado no que se refere à língua.
A língua escrita e a língua falada são diferentes. Evidentemente, uma não poderá ser espelho da outra, já que não escrevemos da mesma forma que falamos, nem falamos da mesma forma que escrevemos.
A escrita é uma convenção e envolve dois tipos de conhecimento: os regrados (ou conhecimentos lógico-matemático), que podem ser desenvolvidos a partir do conhecimento lógico que rege a construção da grafia (por exemplo: dizer que “m” será utilizado antes de “p” e “b”); e os não regrados (sócio-arbitrário), que depende da imagem mental da palavra. Em outras palavras, o conhecimento não regrado depende da intensa utilização/escrita dessa palavra para que ocorra a assimilação da grafia correta.
O processo de construção da escrita…
Durante a alfabetização, a criança passa por um processo de aquisição da escrita que envolve construir e reconstruir hipóteses. Na última hipótese de escrita já é possível para um adulto ler o que a criança escreveu, embora apresente desvios da norma padrão. Nessa última hipótese, a criança passa assimilar o som das letras e sílabas à grafia, ou seja, a criança passa a transcrever a fala durante a produção escrita. Com a transcrição da fala, surgem os famosos problemas de ortografia e segmentação (quando a criança emenda uma palavra na outra).
O que chamamos de erro, na verdade é um desvio da norma padrão. Ocorre por causa da hipótese de escrita que a criança está vivenciando e não está relacionado com problemas de alfabetização. Para ela, a escrita é uma representação da fala e ela parte das regras que conhece para representar o que quer dizer.
Leiam bem: DAS REGRAS.
Porém, palavras que a grafia não seguem essas regras (conhecimento lógico-matemático) são representadas pela forma como a criança acredita que seja, com base nas regras que conhece, até que ela descubra qual a forma correta de grafar a palavra. É claro que as palavras não-regradas que pertencem ao círculo da criança (utilizadas freqüentemente por elas para escrever) são assimiladas com mais facilidade.
Então, antes de canetar…
Antes de considerar a grafia da palavra como “errada”, o professor deve analisar e buscar a lógica do desvio para poder ensinar a grafia correta da palavra. E lembrar que enquanto a hipótese não for reconstruída (a criança desvincular fala e escrita), os desvios vão continuar ocorrendo.
Vale lembrar que nossa escrita é uma convenção que tem valores sociais, culturais e políticos envolvidos. Basta lembrar do acordo ortográfico que entra em vigor a partir de 2012. Muitos adultos que escrevem ortograficamente bem enfrentarão problemas com a nova grafia, já que a grafia anterior passa a ser considerada errada.
                                                                                     Fonte: http://opatifundio.com/glossolalia/?p=431

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