Família

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sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Coração forte como um touro














Nos altos e baixios do Rio Grande do Sul, junto às matas de araucária e aos bosques ribeirinhos, cresce uma árvore de médio porte – 4 a 6 metros de altura – chamada coronilha, canela-de-espinho ou espinho-de-touro (Scutia buxifolia). É uma espécie fácil de encontrar na Serra do Sudeste e no Litoral Sul, mas presente também na Depressão Central do Estado, assim como nos países vizinhos Uruguai e Argentina.
Tradicionalmente, nestas regiões, as cascas da árvore são usadas em chás diuréticos, o que serviu de pista para pesquisas sobre atividades hipotensoras, isto é, para ajudar no controle da hipertensão arterial e, consequentemente, na prevenção de doenças do coração. Uma das equipes debruçadas sobre a planta é do Laboratório de Fitoquímica da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), sob coordenação de Margareth Linde Athayde. Os recursos são da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul (Fapergs).
“Isolamos alguns esteroides e flavonoides e testamos a ação antioxidante in vitro enquanto outro grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) trabalha com o potencial cardiovascular, realizando testes com modelos animais”, conta a doutoranda Aline Augusti Boligon, da UFSM. “Resolvemos nos concentrar na atividade antioxidante porque há relação com a ação hipotensora”.
Trocando em miúdos, o trabalho dos dois grupos é complementar e pode resultar num medicamento cardiotonico e antioxidante, algo para ajudar a fortalecer o órgão mais prejudicado pela mudança de comportamento e de padrões de saúde da população brasileira, cada vez mais sedentária, com tendência à obesidade e, consequentemente, mais exposta a doenças cardiovasculares.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), o índice de obesos na população brasileira aumentou de 11% para 15% entre 1989 e 1997 e se mantêm neste patamar desde então. A obesidade atinge 4% dos garotos e 5,9% das garotas entre 10 e 19 anos, mas já afeta 16,6% dos meninos e 11,8% das meninas com apenas 5 a 9 anos!
Claro que um cardiotonico não fará recuar estes porcentuais, mas pode ajudar a minimizar algumas de suas consequências, enquanto educadores e famílias pensam em maneiras de colocar a criançada para malhar, pedalar, andar, correr ou o que quer que os tire de frente da TV e dos games. A atividade antioxidante ainda elimina radicais livresassociados ao envelhecimento e a uma série de problemas decorrentes do estresse oxidativo.
“Já verificamos que o extrato feito com as folhas e as cascas da coronilha não é hepatotóxico (não afeta o fígado)”, prossegue Aline. “Ainda tenho pelo menos um ano e meio até terminar o doutorado e acredito que neste prazo conseguiremos realizar os outros testes necessários, de toxicidade e dosagem. Considero a espécie bem promissora, pois tem uma boa concentração dos principais compostos antioxidantes, como a quercitina, a rutina e o ácido gálico”.
A mesma planta ainda tem compostos com potencial para reverter úlcera gástrica. Diversos tratamentos auxiliam na prevenção de úlceras, mas essa promessa de ajudar na cicatrização é digna de nota. Olho vivo, portanto, nesse tal de espinho-de-touro. Nunca é demais ter uma alternativa para tornar nossos corações mais fortes!

Foto: Márcio Verdi (ramo florido de Scutia buxifolia)

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